Anho Assado com Arroz de Forno

Descrição: Animal entre os 5 e os 10 kg de peso; Depois de confecionado apresenta uma coloração acastanhada; Aroma característico da carne com as várias especiarias; Textura rugosa.

Características particulares (sinais que evidenciam a singularidade do produto): Forma de confeção e apresentação do produto, em que o anho tem que ir a assar por cima do arroz, em forno a lenha, de tijolo de barro.

Espécies, variedades ou raças (dos animais associados): Ovelha, da terminologia Ovis aries.

Delimitação da área geográfica de produção: Região entre o Douro e Tâmega. Forma particular de confeção do concelho de Marco de Canaveses.

Ligação à paisagem natural: Animal característico e abundante na região, alimentado nas pastagens verdes e agrestes das nossas serras. É um animal com vários fins de utilização: carne, sangue e pele do animal.

Ingredientes utilizados: Anho de +/- 10Kg de peso; louro / loureiro; salsa; alho, azeite, cebola, colorau, toucinho, “banha de porco”, vinho verde branco, sal, arroz, batatas.

Modo de preparação: A sua preparação é iniciada na véspera, preparando uma pasta dos condimentos descritos, untando o anho e deixando-se repousar para que o mesmo absorva o sabor das especiarias. No dia seguinte, prepara-se uma calda, cozendo a cabeça e os “pernis” do anho, salpicão, presunto, carne de porco, carne de vaca, cebola e sal. Deixa-se ferver até que fique com tonalidade branca. Entretanto, colocar o arroz no alguidar de barro, pondo cebola, um fio de azeite, salsa e sal. Arcescente a calda anteriormente preparada, mexa e coloque uma grelha por cima do alguidar, local onde de seguida se coloca o anho.
Ao mesmo tempo desta preparação, acende-se o forno a lenha. Deve-se manter o lume constante, para que o forno não aqueça demasiado nem muito rápido. Tudo a seu tempo na tranquilidade da chama, que de vez em quando é necessário agitar. Forno quente com aspeto de barro branco no seu interior, está pronto para albergar o anho e cozinha-lo como ninguém. Coloque o alguidar do arroz, a grelha por cima e o anho “untado” por cima, e vai ao forno. Feche a porta e deixe assar lentamente durante aproximadamente uma hora, altura em que se abre a porta ao forno, vira o anho e volte a colocar no forno, fechando a porta e deixe repousar durante mais um terço do tempo da cozedura. “Ao abrir a porta ao forno”… tostadinho, está pronto a saborear.

Saber fazer: A particularidade deste produto, tem a ver com a sua forma de produção, o qual tem que ser confecionado em forno a lenha, de tijolo de barro, e o anho tem que ir a assar por cima do arroz. A sua preparação de véspera é essencial para ao sabor da carne se junte todos os sabores dos ingredientes da pasta no qual é barrado o anho.

Formas de comercialização: É vendido à dose em restaurantes.

Disponibilidade do produto ao longo do ano: O Anho Assado com Arroz de Forno está disponível todo o ano no concelho. Com a Rota do Anho Assado com Arroz de Forno, este encontra-se disponível nos vários dias da semana, nos vários restaurantes aderentes a mesma. Para grupos grandes é necessário fazer uma marcação prévia.

Historial do produto: O Anho Assado com Arroz de Forno é por excelência um “prato de festa”, desde tempos imemoriais, ganhando especial destaque nesta região entre o Douro e o Tâmega onde a pastorícia complementa a atividade agrícola. Encontrámo-lo por um lado, associado ao repasto que culmina o dia da vindima, sendo servido aos trabalhadores – não raras vezes vizinhos – de pequenas comunidades que se revezavam no espírito de entreajuda nas fainas agrícolas. Por outro lado, os casamentos, na ementa das “bodas”, contemplava obrigatoriamente o Anho Assado, que muitas vezes, ao invés de se perguntar a data do enlace, se interrogavam para quando o “Convite para o Anho” do matrimónio. A história do arroz de forno, típico desta região e que a confraria do Anho Assado com Arroz de Forno promove e defende tem uma particularidade. No tempo dos nossos antepassados, sabemos das dificuldades monetárias que se faziam passar por estas terras, terras estas também de barões e baronesas, de patrões e caseiros. Como era habitual, nos dias de festa, os caseiros preparavam o anho assado no forno para que pudessem degustar um belo manjar em família. No final da refeição, como pouco restava do anho, somente arroz, que também era delicioso, os caseiros encontraram uma forma de poder saborear o anho assado, colocando-o por cima da grelha, para que este ficasse a “pingar” os condimentos e o sabor do anho pelo arroz. Sabedores dos bons sabores, podiam degustar assim um arroz saboroso, com sabor a anho assado
Representatividade na alimentação local: É o prato gastronómico do concelho. É o prato de festa do concelho.
Disponibilidade do produto (em extinção, oferta contínua, recuperação): Oferta contínua. O Anho Assado com Arroz de Forno está disponível todo o ano no concelho. Com a Rota do Anho Assado com Arroz de Forno, este encontra-se disponível nos vários dias da semana, nos vários restaurantes aderentes a mesma. Para grupos grandes é necessário fazer uma marcação prévia.

Outras designações: Ao longo de todo o território nacional vai tendo várias designações: Cordeiro ou borrego.

Elementos documentais (escritos, fotográficos, videográficos, etc): De tempos ancestrais, o anho assado com arroz de forno e também descrito por vários escritores e personalidades ao longo dos tempos, donde se destaca:
“[…] Destapamos o cesto de D. Esteban de onde surdiu um bodo grandioso, de presunto, anho, perdizes, outras viandas frias que o ouro de duas nobres garrafas de Amontilado, além de duas garrafas de Rioja, aqueciam com um calor de sol Andaluz. […]”
Eça de Queirós in A Cidade e as Serras

“[…]Indra só o escutará, só concederá os benefícios rogados, quando em torno ao seu altar certos velhos, de certa casta, vestidos de linho cândido, lhe erguerem cânticos doces, lhe ofertarem libações, lhe amontoarem dons de fruta, mel, e carne de anho […]”
Eça de Queirós in A cidade e as Serras

“[…] e a quinta depois, com sua latadas de sombra macia, a dormente sussurração das águas regantes, os ouros claros e foscos ondulados nos trigais, oferece, mais que nenhum outro paraíso humano ou bíblico, o repouso acertado para quem emerge, pesado e risonho, deste arroz e deste anho […]”
Eça de Queirós in A correspondência de Fradique Marques

“[…] Breves faz o senhor as noites macias do mês de Nizã, quando se come em Jerusalém o anho branco de Páscoa […]”
Eça de Queirós in A Relíquia, pág. 182.

Fonte: Confraria do Anho Assado com arroz de Forno