Sopa das Segadas
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Descrição: As sopas da segada são preparadas com pão fatiado, azeite, colorau e ovos às rodelas, podendo incluir ainda bacalhau desfiado. O prato é geralmente apresentado em terrinas ou tigelas. 

Caraterísticas particulares: A denominação deste prato está associada ao período das colheitas dos cereais. As jornadas de trabalho que caraterizavam as Segadas ou Ceifas, eram acompanhadas de menu caraterístico particularmente rico em proteínas e hidratos de carbono de modo a recompensar o esforço físico prolongado dos segadores. As então chamadas sopas das segadas, eram habitualmente consumidas ao almoço. Assim, pode dizer-se acerca de este prato que, é na sua singularidade histórica, que reside a principal característica.

Região: Trás-os-Montes e Alto Douro

Ingredientes Utilizados: Água, dentes de alho, azeite, colorau, pão fatiado ovos cozidos e sal q.b, por vezes bacalhau desfiado
 
Saber fazer: Corta-se o pão às fatias finas para uma tigela e molham-se com água a ferver. Em algumas regiões transmontanas em que se utiliza o bacalhau, a água a ferver será da fervura do mesmo, que posteriormente será desfiado e colocado em cima das fatias de pão. Leva-se ao lume o azeite com o colorau e fritam-se os dentes de alho esmagados. Regam-se as sopas com o azeite a ferver.

Formas de Comercialização: Restauração local

Disponibilidade do produto ao longo do ano: Pode consumir-se ao longo do ano. É apresentado nos menus da restauração típica local em épocas distintas, durante a realização de eventos e feiras gastronómicas.

Historial do produto: Esta receita particular está intrinsecamente ligada aos trabalhos agrícolas, nomeadamente às segadas e aos menus das jornadas de segada em Trás-os-Montes.
Tratando-se de colheita resultante do longo trabalho agrícola do ano, ainda que fisicamente exigente, as segadas eram dias festivos, quase comparáveis na sua importância social e no contexto das pequenas comunidades rurais transmontanas, ao Natal e à Páscoa.
Quem bem descreve estes trabalhos é António da Eira em Velhas Canções Transmontanas (2005), com uma descrição contada na primeira pessoa do contexto rural de Castanheira, aldeia do concelho de Alfândega da Fé:
«Os povos primitivos viviam da "recoleição" de frutos. Eram recolectores. E afinal de contas também nós hoje colhemos e armazenamos os alimentos, embora de maneira diferente. Festa da recoleição, lê-se em velhas crónicas da sua existência, em tempos muito antigos. As suas celebrações tinham plena razão de ser, pela estabilidade que geravam para ao longo do ano se poder contar com a ausência de penúria. Quando nos meus tempos de criança observava a peregrinação diária dos pobres das portas, ia tomando conta de alguns desabafos que se ouvia dizer, com a força de orações como esta: que nunca nos falte o pão e o caldo.(...)As colheitas, como as segadas, na Castanheira, eram na verdade uma festa.
Todo o santo dia se cantavam as "Cantigas da Segada", escolhidas a dedo, pela norma do tradicional, desde o amanhecer até à noitinha. O dia era longo, dos maiores do ano, mas com inúmeras dimensões.
O amo da segada ia fazendo os seus cálculos, preocupado com o decorrer das horas e o número de terras para segar, porque não lhe agradava que o trabalho ficasse de sobra para um segundo dia.
E a dona de casa tinha de olhar para as divisões da sua tarefa, consideradas como jornada longa e preocupante, porque os segadores eram respeitados como hóspedes a muito honrar naquela festa de ano.
E para bem tratar os segadores, havia o "desjejum", logo bem cedo, ao princípio do trabalho; mas a primeira grande refeição era o almoço, aí pelas oito horas da manhã, depois de um trabalho de cerca de três horas bem rendosas.» (este relato pode ser consultado também online em As segadas – Atividades agrícolas em Trás-os-Montes no site folclore.pt.)
Fazia então parte deste almoço matutino dos segadores a receita à base de pão, tal como descrita no Acervo de Maria de Lurdes Modesto e consultável em Sopas das cegadas ou dos cegadores (acpp.pt).

Representatividade na alimentação local: Pode encontrar-se nalguns restaurantes como prato tradicional transmontano. Atualmente, alguns municípios, particularmente Alfandega da Fé e Freixo de Espada-à-Cinta, têm promovido este prato como identitário do concelho da região.

Outros elementos documentais (escritos, fotográficos, videográficos, etc): Eira, António (2005), Velhas Canções Transmontanas, Pub. De Autor.
Troca, Armando (2018) - Dissertação de Mestrado - Gastronomia e Culinária da Terra Quente Transmontana-Património Identitário e Recurso Turístico (O Caso do Concelho de Mirandela)
As segadas – Atividades agrícolas em Trás-os-Montes/ https://folclore.pt/as-segadas/