Ginja de Óbidos

Descrição: Licor de frutos, de cor vermelho-escura, normalmente com os frutos visíveis.

Região: Lisboa e Vale do Tejo.

Outras denominações: Ginjinha de Óbidos.

Variantes: Ginja com elas (licor com as ginjas) e ginja sem elas (apenas licor), por vezes aromatizado com baunilha ou com um «pau» de canela.

Particularidade: Licor de sabor forte, intensamente perfumado com o sabor especial e agridoce das ginjas.

História: Acredita-se que a sua origem remonta ao século XVII e possa ser o resultado da pesquisa de algum frade alquimista que, no culto culinário e afins, fértil nos diversos conventos que existiam na região, tenha tirado partido das grandes quantidades de fruto existentes e tenha chegado ao apuramento do licor hoje conhecido. Não levou muito tempo até que a fórmula do licor fosse difundida e desde logo os Obidenses começaram a confecioná-lo competitivamente, a nível familiar, fazendo questão em presentear os mais ilustres hóspedes com a melhor ginja. Com o despertar de Óbidos para o turismo, há cerca de 30 anos, um contador nato de histórias e de grande visão comercial, de seu nome Montez, abriu o primeiro bar da vila, que cedo se transformou no ponto de encontro de uma classe abastada, tendo a ginja sido catapultada para o circuito comercial como bebida da casa. Com o decorrer do tempo abriram-se novos bares e começou então a competição entre eles pela posse da melhor ginja. Mais ou menos alcoólica, mais ou menos doce, mais ou menos ácida, a Ginja de Óbidos é um ex libris da vila de Óbidos que empresta fama às célebres «noites de Óbidos». Cita-se, a título de curiosidade, uma receita fantasiosa que tornou o licor famoso. «Colocam-se dentro de um castelo rodeado de muralhas, os seguintes ingredientes: 11 igrejas; um número significativo de casas caiadas de branco com as barras de várias cores; umas quantas chaminés mouriscas; 2 dúzias de ruas empedradas; 1/2 dúzia de largos e um pelourinho. Mexe-se continuadamente, vai-se polvilhando com flores. Após criar uma certa consistência, adiciona-se um conjunto de tradições que baste e uns quantos atos históricos a gosto. Agita-se finalmente muito bem e deixa-se repousar durante oito séculos. Deve beber-se no local próprio, com elas ou sem elas, à temperatura ambiente.»

Uso: Como aperitivo ou digestivo, a qualquer hora do dia ou da noite.

Saber fazer: Sendo confecionada por particulares e cada um guardando o seu segredo, apenas se pode indicar o seguinte: leva ginjas bem maduras, provenientes da região — em especial da vila Sobral da Lagoa — açúcar e aguardente de muito boa qualidade.

Fonte: Produtos tradicionais portugueses, Lisboa, DGDR, 2001