Cabrito Charnequeiro

Descrição: A carne destes animais é muito saborosa, devido às pastagens espontâneas de que os animais se alimentam. As cabras da raça Charnequeira são de pelagem vermelha, pêlo curto e liso. Cabeça de perfil retilíneo ou sub-côncavo e fronte convexa. Os cornos, quando presentes, são grandes e ligeiramente inclinados para trás, divergentes e retorcidos nas pontas ou nitidamente espiralados. Têm o tronco amplo, com peito estreito e profundo, linha dorso-lombar quase direita mas ligeiramente descaída para a frente e abdómen bem desenvolvido. A cauda é curta, horizontal e arrebitada na ponta. Finalmente, os membros são fortes, curtos e com aprumos regulares.

Região: Alentejo.

Particularidade: A carne deste caprino é tenra e apresenta uma coloração avermelhada. As carcaças são obtidas de caprinos da raça Charnequeira, que se caracteriza por uma grande corpulência e pelos cornos em forma de saca-rolhas, ligeiramente inclinados para trás.

História: São bastante antigas as referências à raça caprina Charnequeira. De facto, esta raça tinha, no século XIX, as suas características perfeitamente definidas. Grandes zootecnistas nacionais, como foram os professores Paula Nogueira e Bernardo Lima, descreveram-na e salientaram a sua importância no Sul do País. Contudo, no final do século XIX, as populações desta raça sofreram uma grande redução dos efetivos, pois as terras onde eram apascentados rebanhos foram convertidas em terrenos de cultivo de cereais que eram incompatíveis com a criação de caprinos. Este facto levou ao quase desaparecimento da raça. Subsistiram, no entanto, alguns núcleos no Norte Alentejo (serras de S. Mamede, Ossa e Portalegre), na Beira Baixa e, ainda, nas serranias do Sul do Alentejo e Algarve. Nestas regiões, os rebanhos tiveram que se adaptar a novas formas de criação, dados os menores recursos forrageiros disponíveis, levando a uma alteração dos parâmetros produtivos da raça, tornando-a mais rústica e adaptada a situações de carência alimentar. Só em 1987, quando a raça estava no limiar da extinção, se criou o seu registo zootécnico por despacho conjunto dos Ministérios das Finanças, Plano e Agricultura. A partir deste momento assistiu-se a um aumento dos efetivos da raça e a um renovado interesse dos criadores pela sua criação, sobretudo na região da Beira e do Norte Alentejo (onde a raça tem o seu solar).

Uso: Destes animais aproveita-se o leite, com o qual são produzidos queijo estreme ou de mistura com leite de ovelha, sendo famoso, no Alentejo, o queijo mestiço de Tolosa. Também a carne do cabrito é muito apreciada, sendo consumida sobretudo nas festas natalícias e da Semana Santa, existindo vários pratos da afamada cozinha alentejana como o cabrito assado no forno, a caldeirada de cabrito, o ensopado de cabrito, etc.

Saber fazer: Estes animais estão permanentemente em pastoreio, sendo a sua base de alimentação as magras pastagens e os arbustos, nomeadamente a esteva e a urze das serranias onde continuam a ser criados. Só as crias, durante o primeiro mês de vida, são resguardadas em abrigos rudimentares e naturais, as «malhadas», por não poderem acompanhar as mães. Os partos ocorrem ao longo de todo o ano, já que as fêmeas desta raça são poliéstricas. Os animais agrupam-se em rebanhos que chegam a atingir duas centenas de animais, sendo acompanhados de um pastor e um ou mais cães. Os cabritos são abatidos até aos 45 dias, com um peso vivo máximo de 8 a 10 kg, sendo o leite aproveitado para a produção de queijo.

Fonte: Produtos Tradicionais Portugueses, Lisboa, DGDR, 2001