Posta Mirandesa
Tags: NorteCORANE

Nome do Produto: Posta Mirandesa, Posta à Mirandesa, Posta de Mirandesa

Descrição: Bife alto e almofadado de carne bovina mirandesa, cortado da perna em nacos, com a dimensão aproximada de, no saber popular, “uma palma de mão uma mão travessa” passada pela brasa com sal a gosto. Excecionalmente terna e suculenta, possui aromas e sabores que a diferenciam de outras carnes de bovino.

Características particulares: A particularidade do produto está na qualidade mirandesa da vitela e no corte da carne, que deve evitar os veios e garantir uma grossura de, no mínimo de 2 a 3 centímetros, devendo ser ainda mais alta. Também no momento de assar na brasa, tem um papel importante, no sabor que irá conferir à carne, a lenha utilizada desaconselhando-se a utilização de madeiras resinosas

Região: Relacionada com a área de produção da carne mirandesa, embora a Posta Mirandesa, na sua qualidade de prato se confecione e consuma em toda a região de Trás-os-Montes e Alto-Douro. Considerando que haja maior incidência nos concelhos da área geográfica do solar da raça que engloba os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vinhais, Bragança, Vimioso e Macedo de Cavaleiros.

Ingredientes utilizados: Posta de carne mirandesa e sal grosso q.b. Acompanhada frequentemente, por batata (cozida, assada ou frita), a que ainda se podem juntar grelos ou cogumelos ou salada simples.

Modo de preparação: O modo de preparação é o tradicional, com recurso à brasa de lenha. Privilegia-se, por isso, a qualidade da carne mirandesa, que tem Denominação de Origem Protegida, obedecendo por isso a um modo de produção controlada e certificada que garante a genuinidade da carne utilizada na confeção da Posta.

Saber fazer: Para a confeção do prato de Posta Mirandesa devem utilizar-se nacos de carne bovina mirandesa de grossura considerável e de entre 250g a 300g.
A carne coloca-se a assar sobre brasas fortes e uniformemente distribuídas sob a grelha para que a posta adquira uma textura homogénea e rapidamente asse por fora, mantendo o interior tenro. De acordo com o livro de referência Receitas e Sabores dos Territórios Rurais (Federação Minha Terra:2003), o modo de confeção obedece aos seguintes passos: «A grelha deve ser colocada a uma altura de cerca de 10 cm das brasas. A carne deve ser cortada em postas com uma espessura de 3 a 4 cm. Coloca-se a carne na grelha sem tempero nenhum. Após esta operação, e caso o deseje, tempere com sal grosso. Voltar a carne, sem espetar, quando aparecerem pequenas pérolas de sangue na superfície superior. O tempo que a posta está na brasa depende do gosto pessoal, consoante se prefira a carne bem ou malpassada. Para conservar a suculência da carne, esta não pode ser picada. Ao voltar-se a posta, o lume deve estar forte, para que se crie uma crosta que impeça a saída dos sucos. Contudo, esta crosta não deve ser espessa, porque senão o calor penetra na carne de forma deficiente e a posta acaba por ficar queimada por fora e mal grelhada por dentro. Acompanhar com batata cozida com casca ou assada, legumes e salada.»

Formas de comercialização: Restaurantes, talhos e superfícies comerciais.

Disponibilidade do produto ao longo do ano: Consumido durante todo o ano

Historial do produto: Tal como não se consegue precisar no tempo a origem da raça bovina mirandesa da qual resulta o ingrediente essencial para a confeção da Posta Mirandesa, não é também clara na cronologia a origem do prato que está intimamente relacionado com a produção da carne mirandesa. Mas, do mesmo modo, que está identificado o Planalto Mirandês como o território onde terá origem a raça de carne bovina mirandesa, a partir do qual a produção desta raça autóctone se expande para outros concelhos e até para outras regiões do país no passado, também se entende aquele território como o de origem do típico prato de Posta Mirandesa. Efetivamente, a Posta é considerada um legado familiar de Miranda do Douro (tendo-se popularizado a receita da Posta à Gabriela e a sua transmissão de geração em geração, e também de outros restaurantes históricos daquele concelho) sendo hoje um dos mais identitários ícones da cozinha tradicional transmontana reconhecido nacional e internacionalmente.
É frequentemente referenciado como prato transmontano de consumo fundamental, em viagem pela região, de citação obrigatória nos guias turísticos de referência, há várias décadas. Por exemplo, no The Berlitz Traveller's Guide Portugal de 1992 (pág. 436 e 437) e no Cadogan Guides Portugal edição de 2009 (pág. 151 e 155).
"Bandeira gastronómica" do turismo na região transmontana, surge assim descrita a origem deste prato na página online da Entidade Turismo Porto e Norte: «A, agora, famosa Posta Mirandesa surgiu de uma forma humilde, instintiva e única de atirar um "naco de carne" para cima de uma grelha quente, colocando-lhe posteriormente, sal grosso. A carne de vitela de Raça Mirandesa é um produto conhecido por obedecer aos mais elevados padrões de qualidade no seu processo de produção e confeção.»
Na Edição 79 da Publicação da European Association for Animal Production (1996), descrevem-se as, então, dificuldades de produção da raça autóctone bovina mirandesa, mas faz-se uma breve referência à "fama" da Posta Mirandesa que incentivava a procura.
Finalmente, o registo da Denominação de Origem (DOP), considera Sousa (2000:76), teve uma implementação facilitada no mercado «obtendo grande recetividade dos principais circuitos comerciais, grande distribuição, talhos e restaurantes». Acrescentando que «Desde há muitos anos que a carne desta raça é famosa, tendo inclusive originado uma especialidade que é um dos ex-libris da gastronomia de Trás-os-Montes, a Posta Mirandesa».

Representatividade na alimentação local: Antigamente associado ás feiras de gado e ás casas particulares, onde era frequente o consumo de carnes grelhadas nas brasas acompanhadas com pão caseiro, hoje é possível encontrar-se em qualquer restaurante típico transmontano ao longo de todo o ano.

Outros elementos documentais (escritos, fotográficos, videográficos, etc): ACBRM, (2007), http://www.mirandesa.pt, Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa, julho.
EAAP Publication, Edição 79 (1996), European Association for Animal Production, Universidade Cornell, Ed.Butterworths.
FRAGATA, António; SOUSA, Fernando; MENDONÇA, Álvaro (1995). A valorização da carne de bovino de raça Mirandesa. Revista de Ciências Agrárias. ISSN 0871-018X. 18:2, p. 3-7.
RIBEIRO, Maria Isabel; Matos, Alda; Fernandes, António (2008). Análise estratégica da denominação de origem protegida carne mirandesa. Revista Portuguesa de Estudos Regionais. ISSN 1645-586X. 17:1, p. 45-60.
SOUSA, Fernando (2000). Mirandesa. In Yanes García, José Emílio (Coord.) Catálogo de raças autóctones de Castilla Leon - Região Norte de Portugal - Espécies bovina e equina. Zamora: Fundacion Rey Afonso Henriques. p. 65-76. ISBN 84-89981-14-0.
SOUSA, Fernando; Sanchéz, Luciano (2009) – Mirandesa. Miranda do Douro: Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa. ISBN 978-989-96373-0-6.
Guia Terra Fria Transmontana: Viagem à Natureza Ed. Associação de Municípios da Terra Fria do Nordeste Transmontano.
Receitas e Sabores dos Territórios Rurais, (2013) Federação MINHA TERRA.

Fonte: DGADR, com base no Livro Receitas e sabores dos territórios rurais (MINHA TERRA – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local, 2013), Carta Gastronómica do Alentejo - Monumenta Transtaganae Gastronómica (Confraria Gastronómica do Alentejo, 2013) e Rei, António (2016), A Açorda. Uma sopa de pão, da Alta Idade Média à atualidade, IEM /FCSH – Universidade Nova de Lisboa.

Foto: Cedida pela MINHA TERRA – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local.