Doces de Amêndoa ou Doces de Amêndoa de Mós do Douro
Descrição: Trata-se de um pastel doce, com aroma a amêndoa.

Caraterísticas particulares:
É comum acreditar-se que só se consegue um doce deste calibre pelo fato de ser feito com este grão de amêndoa de alta qualidade, oriundo de variedades antigas que foram aprimoradas ao longo dos anos pelos agricultores da região.
Na doçaria Mosense, os Doces de Amêndoa são considerados o ex-libris de Mós do Douro, pois é necessária elevada mestria para a confeção do doce. Quando uma família oferecia os doces de amêndoa a alguém era sinal de profunda gratidão e/ou reconhecimento (ainda hoje). Tradicionalmente, os doces são acompanhados por um cálice de vinho fino ou generoso (mais conhecido por Vinho do Porto).
A espessura da amêndoa laminada deverá ser tão fina quanto a de uma flor de laranjeira. Existem muitos doces feitos com a amêndoa. Todavia, o nome próprio destes doces é "Doces de Amêndoa".

Região: Trás-os-Montes e Alto Douro. Especificamente no município de Vila Nova de Foz Côa.

Ingredientes Utilizados: Claras de ovos (preferencialmente caseiros), Amêndoas (de categoria elevada) e Açúcar.

Modo de preparação: Modo de preparação artesanal, de acordo com a receita tradicional.
 
Saber fazer: A preparação deste doce envolve diversas fases criteriosas até chegar ao requintado produto final, obedecendo a uma série de padrões de qualidade: desde os ovos caseiros, a amêndoa de categoria elevada e mão hábeis para a confeção manual.
Os segredos da sua confeção passam de geração para geração no núcleo familiar.
No saber fazer destes Doces de Amêndoa destacam-se desde logo no processo de manufatura diversos processos:

Apanha da amêndoa
A apanha da amêndoa, através do típico varejar realizado pela força braçal dos homens, com o recurso a uma vara comprida e as mulheres apanhavam a amêndoa que caía nas lonas de serapilheira previamente colocadas debaixo das amendoeiras;

O partir da amêndoa
A partida da amêndoa que juntam as mulheres da aldeia em prolongados serões, recorrendo a um moisão (pequeno bloco de pedra, habitualmente de granito) sobre o qual se repercute uma escápula na casca rija da amêndoa para libertar o miolo. A escápula é uma ferramenta ferroviária que permite a fixação do carril. De realçar que a Linha do Douro foi fundamental para o desenvolvimento desta aldeia que ainda mantém em funcionamento a Estação de Mós do Douro. Já a partida da amêndoa constitui um momento social importante ao qual está quase sempre associado a um contexto de convívio comunitário;

O pelar da amêndoa
O processo seguinte passa pela retirada da pele que envolve o miolo, designado de "pelar da amêndoa";

A Secagem do Miolo de Amêndoa
Segue-se o processo de secagem do miolo (já sem pele), o qual dependerá do tipo de amêndoa, da humidade atmosférica e outros aspetos que apenas as especialistas das Mós conseguirão aferir quando está no ponto ótimo de secagem. O ponto de secagem é fundamental para que o próximo passo tenha sucesso;

O laminar o Miolo de Amêndoa
O miolo da amêndoa é laminado manualmente, em películas muito finas. É um processo em que apenas as mãos treinadas conseguirão realizar na perfeição;

Por fim, a preparação e confeção do Doce de Amêndoa
Chegados a esta fase, depois de bater as claras em castelo, adiciona-se o açúcar até obter o "ponto" pretendido. A este preparado junta-se a amêndoa laminada. Posteriormente, esta mistura de ingredientes é colocada em pequenos montinhos num tabuleiro previamente polvilhado com farinha e vai ao forno.

Formas de Comercialização: Estes doces, normalmente são confecionados em eventos festivos, tais como casamentos, batizados e comunhões.

Disponibilidade do produto ao longo do ano: Há centenas de anos os saborosos Doces de Amêndoa de Mós do Douro são preparados pelas famílias maioritariamente em três momentos especiais: Páscoa, Natal e nas Grandiosas Festas à Nossa Senhora da Soledade no 3º domingo de setembro.
 
Historial do produto: A amêndoa, o vinho e o azeite são considerados os três pilares identitários da mesa do Douro Superior, conferindo indubitavelmente a excelência paisagística e consequentemente gastronómica do concelho de Vila Nova de Foz Côa. A amendoeira no Douro Superior assume-se como um património cultural, económico e paisagístico de enorme importância na região. As suas qualidades organoléticas e o característico sabor duriense deste fruto seco devem ser preservados e transmitidos dignamente às gerações vindouras. A confeção dos Doces de Amêndoa de Mós do Douro é disso exemplo.
Mós do Douro é, ancestralmente, uma das localidades com mais hectares de amendoal, sendo por esse motivo uma das rotas de eleição para observar as Amendoeiras em Flor com o seu véu branco ou rosa, ao longo dos inúmeros montes e declives desta aldeia, entre fevereiro e março, sendo o concelho de Vila Nova de Foz Côa conhecido como a Capital da Amendoeira em Flor. Desde há mais de 250 anos, os mercados da região eram abastecidos por esta localidade e, deduz-se que, fruto desta elevada produção, a criatividade das mulheres mosenses foi determinante para a invenção do Doce de Amêndoa.
A amendoeira (Prunus dulcis) é uma espécie com origem nas regiões quentes e áridas do sudoeste asiático. Terá sido disseminada pelo Médio Oriente, Turquia e Grécia através da rota da seda, chegando a Itália e Espanha há mais de 2000 anos. A cultura foi-se instalando à volta da bacia mediterrânia, mas só a partir de 1850-1900 foi possível estabelecer as variedades locais, formadas por seleção natural.
A amendoeira está adaptada a solos pedregosos, pouco espessos, declivosos, de reduzida capacidade de retenção de água, sujeitos a processos de erosão ativa. É em Trás-os-Montes e Alto Douro que se encontra atualmente a maior área de amendoal do país, mais precisamente em Mirandela, Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo e Vila Nova de Foz Côa.
A amêndoa produzida no Douro Superior ostenta com o orgulho o reconhecimento internacional de Denominação de Origem Protegida (D.O.P.) "Amêndoa do Douro", classificada no ano de 1994 pela União Europeia. Trata-se de um produto natural, dotado de propriedades organoléticas singulares, com origem na agricultura mediterrânica tradicional, constituindo uma das marcas identitárias desta região.
Vila Nova de Foz Côa reivindica para si o justo título de "Capital da Amendoeira", por ser o Concelho que em Portugal tem a maior densidade de amendoeiras... ...são os frutos secos em especial a amêndoa que fornecem a matéria-prima para as especialidades culinárias mais requintadas: os doces de amêndoa, as súplicas, as lampreias de ovos e ainda os "coscorões", os folares e as bolas toscas, livradas e picadas.
Em 1758, nas Memórias Paroquiais de Marquês de Pombal, cita-se a amêndoa como uns dos frutos da terra que nessa altura recolhiam os moradores das seguintes freguesias fozcoenses: Almendra, Castelo Melhor, Mós do Douro, Murça do Douro, Santo Amaro, Seixas do Douro e Vila Nova de Foz Côa.
A importância da amêndoa na dieta mediterrânea foi sempre secundária, pois, por não se tratar de cereal, carne ou peixe, nunca constituiu o alimento-base de nenhuma comunidade rural portuguesa. Porém, a amêndoa é considerada como o principal dos frutos secos de casca rija nas mesas do Douro Superior e, por isso mesmo, um produto complementar da alimentação familiar.

Representatividade na alimentação local: Os Doces de Amêndoa ou Doces de Amêndoa de Mós de Douro encontram-se um pouco por toda a região, principalmente na freguesia de Mós do Douro, pertencente ao município de Vila Nova de Foz Côa, do distrito da Guarda.

Outros elementos documentais (escritos, fotográficos, videográficos, etc): M.A. Rodrigues. Amendoeira: estado da produção. [Bragança]: CNCFS. ISBN 978-989-99857-9-7
Rodrigues, M.A. (2017). Manual Técnico - Amendoeira: estado da produção. Projeto "Portugal Nuts", Norte-02-0853-FEDER-000004 Centro nacional de Competências dos Frutos Secos, Bragança. Páginas 98 e 109.
Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa (s.d.).
Ladra, L. (2013). A Cultura da Amêndoa no Douro Superior – História, Tradição e Património. Páginas 37,53 e 54. Ed. 19019, Âncora Editora: Lisboa.
 
 
 
Fonte do registo: Município de Vila Nova de Foz Côa