Inhame dos Açores

Descrição: Os inhames que se consomem são os tubérculos da Colocasia antiquorum de Schott ou, segundo Linneu, a Arum colocasia, com tamanhos que vão dos 5 aos 10 cm de diâmetro e um comprimento em regra de cerca de 25 cm.

Região: Região Autónoma dos Açores.

Outras denominações: Nalgumas ilhas do grupo Central chamam «cocos» aos inhames. Em S. Miguel dão o nome de «minhotos» aos inhames mais pequenos, geralmente produzidos na Bretanha e que são considerados os mais saborosos. Diz-se que este termo poderá ter a sua origem no francês mignon ou mignonne.

Variantes: Têm sido cultivadas três variedades de inhame: o branco, o roxo e o vermelho.

Particularidade: Rizomas cilíndricos, lenhosos, de casca estriada e de cor acastanhada.

História: A cultura do inhame nos Açores remonta, pelo menos, ao século XVI. Frei Diogo das Chagas escreveu no seu livro Espelho Cristalino, em Jardim de Várias Flores (entre 1640 e 1646): «... tem boas e largas lavouras de inhames que se chamam cocos, o dízimo dos quais eu vi arrematar um ano em 120$000 reis e às vezes rende mais». Em 1661, no Livro de Correições da Câmara Municipal do Concelho de Vila Franca do Campo, a folha 147 diz-se: «… disseram também que havia muitas terras em que se podia plantar inhames, que é grande remédio para pobreza... mandei que cada pessoa fosse obrigada a plantar ao menos meio alqueire de terra de inhames...». Na ilha de S. Jorge dá-se em 1694 o chamado «motim da Calheta» que consistiu, essencialmente, na recusa dos inhameiros a pagar o dízimo sobre a produção. Em 1830 ainda vigorava o dízimo sobre os inhames pois em 14 de dezembro desse ano a Câmara Municipal do concelho de S. Sebastião da ilha Terceira escreve à rainha dizendo: «… que abuso Senhora! o dízimo duma vaca parida, o dízimo do bezerro que ela cria (e pela estimativa) o dízimo da herva que ella come; o dízimo da ovelha, e da lã, o dízimo das cebollas, dos alhos, das abóboras, e dos bogangos, o dízimo dos inhames, plantados pelos regatos; e, finalmente, o dízimo das frutas e das madeiras...». As populações destas ilhas são, por vezes, apelidados de inhameiros, não só porque nessas regiões existem muitos, mas também porque deles fazem grande consumo. Em versos de 1880, compostos por José Pacheco da Achadinha, lê-se: «Nordeste, vila pedinte, Lomba da Cruz, estouvados. Na fazenda, os inhameiros, na Lazeira, os mal-trajados». Na década de 40, Nemésio escreve: « o Jorgense é inhameiro».

Uso: Alimento consumido, em tempos de fome, como substituto do pão, é agora muito apreciado pelos açorianos, que consomem os mais tenros cozidos apenas em água e sal. Usam-se também para fazer sopas e como acompanhamento quente ou frio da maioria dos pratos da cozinha açoriana, depois de cozidos e descascados ou fritos. Podem utilizar-se também para o fabrico do álcool.

Saber fazer: Os inhames são cultivados normalmente em «lameiros», ou nas «fajãs», que são lugares húmidos não elevados. Também se cultivam em lugares secos, precisando então de ser regados em abundância. O inhame pode ser farinado, tendo existido uma pequena indústria rural destinada a produzir farinha para os aglomerados populacionais de emigrantes (por exemplo, EUA).

Fonte: Produtos Tradicionais Portugueses, Lisboa, DGDR, 2001