Cebola da Madeira DOP
Descrição:  Designa-se por «Cebola da Madeira» os bolbos da espécie Allium cepa L. das variedades tradicionais obtidas nas ilhas habitadas do arquipélago da Madeira, nomeadamente: a “Branca”; a “Pião”; a “Bujanico”; a “Vermelha”; a “Roxa” e a “Do Tarde”, produzidas seguindo as práticas tradicionais das ilhas da Madeira e do Porto Santo.

Os bolbos das variedades tradicionais de «Cebola da Madeira» apresentam características morfológicas próprias, que justificam os nomes vernáculos que lhes foram atribuídos pelos madeirenses, designadamente:
- Forma que vai de oblata a globosa ou de globosa a cónica (na “Pião”), com homogeneidade média na forma e tamanho em cada variedade e com peso médio que vai dos 180 g/bolbo aos 250 g/bolbo;
- Película externa normalmente amarela, mas com tons violáceos nas variedades tradicionais “Vermelha” e “Roxa” e com grande uniformidade de cor, sendo algo opaca ou mais translúcida e brilhante (na “Branca”). Apresenta média a muito pouca aderência ao bolbo;
- Polpa principalmente branca, com tons avermelhados ou arroxeados nas variedades tradicionais “Vermelha” e “Roxa”. A espessura das túnicas é média a pequena e apresenta uma consistência média a tenra.
São bolbos bastante suculentos, com teores médios de matéria seca próximos dos 10 g/100g, que podem ser ligeiramente superiores quando produzidos na ilha do Porto Santo.
Apresentam elevada riqueza em hidratos de carbono (em média superior a 7 g/100g) e em vitamina C (em média superior a 10 mg/100g), que lhes conferem características organoléticas e propriedades antioxidantes, desde sempre, valorizadas pelos consumidores locais.
Quando crua a «Cebola da Madeira» apresenta consistência crocante e suculenta, mais ou menos tenra e pouco fibrosa. Cozinhada fica menos estaladiça, mais sumarenta e translúcida.
O seu aroma é característico e adocicado, com ligeiras notas a enxofre ou a alho, vegetal e fresco ou terroso, sendo pouco pungente e persistente, mas com intensidade e complexidade médias a elevadas. Após cozedura ficam mais suaves e com notas a fumo/grelhado ou a caramelo, mantendo a sua intensidade e complexidade.
Em fresco, os sabores são mais ou menos doces e pouco picantes, com fim de boca mais apimentado, com ligeiras notas a fresco, a enxofre, ou a vegetais, podendo apresentar alguma adstringência, acidez ou um ligeiro amargor que abranda com a mastigação, apresentando intensidade e complexidade média a elevada. Após cozedura perdem intensidade e ficam mais adocicados, lembrando caramelo ou torrefação, principalmente quando grelhadas e desaparecendo o gosto vegetal e fresco, sendo que o sulfuroso, quando existente, fica também mais suave, com melhor equilíbrio ácido/doce, sem adstringência e geralmente menos picantes e persistentes.
 
Método de produção: A produção da «Cebola da Madeira» é fortemente dependente do trabalho dos agricultores madeirenses, dado que todas as operações culturais, desde a preparação do “cebolinho”, à sua transplantação, à realização dos amanhos culturais até à sua colheita e, na maioria das explorações, também a sua preparação para colocação no mercado, são realizadas manualmente
Existe grande especialização dos agricultores madeirenses e portosantenses que, desde sempre, em cada colheita, souberam selecionar os bolbos das diferentes variedades tradicionais que apresentavam as melhores características, para serem conservados para posterior obtenção do “cebolinho”, como localmente são denominadas as sementes (e também as plântulas que estas originam) utilizadas na produção da «Cebola da Madeira» e que são exclusivamente obtidas nas suas explorações ou são disponibilizadas por outros produtores locais.
A plantação manual, com compassos bem definidos, contribui para a uniformidade no tamanho e no peso médio dos bolbos, sendo que a textura dos solos e as operações de preparação do terreno e de monda e sacha realizadas durante o desenvolvimento da cultura, promovem “que a terra fique solta junto aos bolbos”, favorecendo a boa homogeneidade da forma própria de cada variedade tradicional.
A marcada influência da temperatura e da luminosidade (insolação) no ciclo vegetativo desta cultura, especialmente no que concerne ao desenvolvimento dos bolbos, mas também à sua entrada em floração para formação da semente, determinam que, em ambas as ilhas, os agricultores conheçam muito bem quais são as variedades tradicionais que, em função das exigências do seu fotoperíodo e das condições climáticas da zona, estão mais adaptadas à sua localidade e qual é a melhor época para a sua produção.
As condições de temperatura e de exposição (luminosidade) nas zonas de produção das duas ilhas favorecem também nos bolbos, a elevada taxa de fotossíntese que promove a síntese dos açúcares e dos nutrientes que justificam o seu elevado teor em hidratos de carbono que as tornam mais doces e a sua riqueza em vitamina C, que justifica, quando consumida em cru, as propriedades antioxidantes que desde sempre são atribuídas à «Cebola da Madeira».
Nesta produção o período mais sensível ao stress hídrico é durante o crescimento dos bolbos, pelo que os agricultores locais garantem as melhores condições de humidade para o desenvolvimento das suas produções, realizando a primeira rega, logo após o transplante do cebolinho e repetida frequentemente, segundo a zona de produção, uma ou duas vezes por semana, durante a fase de crescimento dos bolbos, sendo mais espaçada na fase da maturação.
Tradicionalmente recorria-se à rega a partir da “levada” em que, com auxílio de uma pá de madeira, os agricultores borrifavam toda a parcela com o cuidado de não arrastar a terra que deixaria os bolbos a descoberto e evitando também que o solo ficasse demasiado encharcado. Atualmente, para além desta prática, a rega é realizada por aspersão na ilha da Madeira enquanto, na ilha do Porto Santo pelas particulares condições edáficas locais, é preferencialmente instalada a rega localizada (gota-a-gota).
Em qualquer dos casos, a disponibilidade de água de rega, mesmo nos períodos de estio, tanto nas “cebolas do cedo”, como nas “cebolas do tarde”, reduz a ocorrência de períodos de défice hídrico, possibilitando o elevado teor de humidade dos bolbos e contribuindo para o seu reduzido amargor e picante.
 
Características particulares: As condições edafoclimáticas particulares das ilhas da Madeira e do Porto Santo e as práticas culturais que, desde a introdução desta cultura, são implementadas pelos agricultores locais, permitiram a adaptação das variedades tradicionais de «Cebola da Madeira» e conferiram-lhes as propriedades aromáticas, gustativas e antioxidantes que as tornam as preferidas dos consumidores madeirenses.
 
Área de produção: Todas as fases de produção, desde a obtenção da semente ou “cebolinho”, à plantação e colheita da «Cebola da Madeira», ocorrem nas ilhas da Madeira e do Porto Santo.
 
História: Desde sua introdução pelos primeiros povoadores portugueses, nas primeiras décadas do século XV, tanto da ilha da Madeira, como na do Porto Santo, esta produção passou a ocupar lugar de destaque na dieta alimentar das populações locais, principalmente no espaço rural, como foi amplamente relatado por muito forasteiros que visitaram ou habitaram as ilhas, entre os séculos XVII e XIX.
O seu modo tradicional de produção mantém-se constante, pelo menos, desde as primeiras décadas do século XX e encontra-se explanado em vários artigos do boletim "Frutas da Madeira" (publicado entre abril de 1941 e janeiro de 1958), que identificam as cebolas cultivadas naquela época e outras então introduzidas (que correspondem às atuais variedades tradicionais) e onde foram descritas recomendações e operações culturais, de fertilização e de proteção fitossanitária, que ainda hoje são referidas e seguidas pelos produtores locais.
A elevada importância que detém nos hábitos alimentares dos madeirenses determina que esta cultura seja produzida tanto para autoconsumo e vendas diretas, nas pequenas explorações de agricultura familiar das ilhas, como também em explorações empresariais, da ilha da Madeira, para abastecimento do mercado regional.
Na produção da «Cebola da Madeira» destaca-se sobretudo a freguesia do Caniço (ilha da Madeira), que assegura a maior parte do abastecimento regional e onde anualmente, desde 1997, é realizada a “Festa da Cebola” para promover este produto tradicional e preservar o seu modo particular de produção.
Também na ilha do Porto Santo, recentemente reconhecida como Reserva da Biosfera da UNESCO, esta cultura está abrangida pelo objetivo estratégico de salvaguardar, valorizar e otimizar os recursos agrícolas e culturais da ilha.
 
 
Plano de controlo
Plano de controlo (pdf)
 
Publicações no jornal oficial da EU
JOUE C 281 de 10.08.2023
JOUE L 2658 de 28.11.2023

Publicação em DR