Bolo da Sertã

Descrição: O Bolo da sertã — tradicional em S. Miguel, em S. Jorge e no Pico — é uma espécie de pão feito com farinha de milho, sem fermento e só com água e sal. Tem cerca de 25 cm de diâmetro e 3 cm de altura. Em S. Miguel cozem-se os bolos na sertã. A sertã é uma espécie de frigideira ou disco grande de barro não vidrado, cozido e com uma bordadura, fabricado em S. Miguel, nas olarias da Ribeira Grande e Vila Franca do Campo. Esta sertã pode ser aquecida com qualquer tipo de combustível.

Região: Região Autónoma dos Açores.

Outras denominações: Bolo de laje.

Particularidade: Pão redondo, achatado, que se come quente.

História: Segundo Carreiro da Costa, a origem remota do Bolo da sertã é mourisca, sendo o seu sistema de fabrico semelhante ao de várias zonas do continente e da Madeira. A confeção do Bolo da sertã é uma tarefa muito simples, pelo que se considera como ciência mínima para toda a rapariga que se quer casar. Numa antiga cantiga da ilha Terceira, citada por Carreiro da Costa, diz-se: «Ó Pico, rocha tão alta, / Onde a neve faz tijolo! / Meninas, quereis casar / E não sabeis fazer bolo?»

Uso: Estes bolos devem ser comidos quentes e acompanham diversos pratos, podendo, no entanto, ser comidos só com manteiga. São feitos, geralmente, quando em casa há falta de pão, nos dias antes da cozedura. Trata-se, portanto, de um tipo de pão algo improvisado, porquanto é fabricado quando o «verdadeiro» pão rareia. Esta prática revela, ainda, os antigos hábitos «nómadas» de certas populações.

Saber fazer: A massa destinada ao bolo é feita com farinha de milho, água muito quente, sal e um pouco de farinha de trigo. Depois de escaldada e amassada, fazem-se pequenas bolas que se espalmam sobre a tendeira polvilhada com farinha. Seguidamente o disco de massa é colocado sobre a sertã bem quente ou sobre simples pedras aquecidas, deixa-se alourar e vira-se. O processo de fazer este bolo varia de ilha para ilha. Assim, por exemplo, como refere Leite de Vasconcelos, na Calheta e Piedade (S. Jorge e Pico) cozem uma espécie de pão chamado bolo de farinha de milho, sem fermento e só com sal e água; aquecem no pátio uma laje móvel, acendendo-lhe lume em cima; depois limpam-na e colocam-na sobre a massa tendida. Temos aqui um costume de carácter bastante primitivo. Noutras terras do arquipélago cozem o bolo num tijolo redondo aquecido sobre uma trempe com lenha.

Fonte: Produtos Tradicionais Portugueses, Lisboa, DGDR, 2001